Climatização: fazer a melhor escolha
O aquecimento ambiente é responsável por cerca de 22% do consumo de energia numa habitação, dos quais apenas 0,5%, correspondem ao arrefecimento da habitação [1]. Grande parte das habitações em Portugal, devido ao seu estado de conservação e características do edificado, recorre a soluções de aquecimento elétricas, económicas aquando do investimento, mas com um fraco desempenho energético ao longo da sua utilização.
Os aparelhos de ar condicionado são uma solução inteligente para colmatar as necessidades de aquecimento, sendo mais eficientes do que os radiadores ou os termoventiladores.
Como funciona um aparelho de ar condicionado?
O princípio de funcionamento é igual ao de um frigorífico: o interior do ar condicionado é constituído por uma rede de serpentinas, condensadores e evaporadores, percorridos por um fluido frigorigéneo que permite realizar as trocas de calor entre o interior e o exterior, de modo a fazer o aquecimento (no inverno) e o arrefecimento (no verão) do espaço interior. Como consequência destas trocas de calor, a humidade do ar condensa dentro do ar condicionado (de forma idêntica ao que ocorre numa lata de refrigerante), razão por que o ar fica mais seco e daí que equipamento preveja um tabuleiro para recolha de condensados.
O ar contém água na sua constituição, por isso ao libertar calor em contacto com a serpentina vai libertar água (fenómeno de condensação) – a esta chama-se condensados (Figura 1). Como este sistema vai libertar água, as unidades interior e exterior devem ter uma ligação ao esgoto ou à rede de águas pluviais.
Figura 1 – Funcionamento de um ar condicionado.
TIPOS DE EQUIPAMENTO
Existem 3 tipos de soluções, de acordo com as diferentes necessidades e objetivos pretendidos.
A
B
C
Figura 2 – Tipos de ar condicionado: (A) Portátil, (B) Monosplit e (C) Multisplit.
A. Portátil -Uma única unidade com todos os componentes e com um tubo ligação ao exterior (Figura 2A).
Vantagens: Fácil deslocação e não requer instalação.
Inconvenientes: É necessário ter uma janela ou uma abertura perto do aparelho para colocação do tubo de ligação ao exterior.
B. Monosplit – Com uma unidade de exterior e uma de interior, é o modelo mais comum (Figura 2B).
Vantagens: Mais eficiente do que os sistemas portáteis, é de mais fácil instalação.
Inconvenientes: Só permite a instalação numa única divisão da casa.
C. Multisplit – Semelhante ao Monosplit, mas com uma unidade exterior com a possibilidade de ser ligada a várias unidades interiores (Figura 2C).
Vantagens: Permite abranger diferentes divisões da casa, o controlo individual dos “set-points” de temperatura ambiente e a utilizar diferentes configurações e capacidades de unidades interiores.
Inconvenientes: Não permite ciclos de aquecimento e arrefecimento simultâneos, ou seja, se regulado para arrefecimento, todos os equipamentos terão o mesmo tipo de funcionamento.
Etiqueta Energética
Existem diferentes etiquetas de acordo com a tipologia de equipamento e funcionalidades associadas: reversível (tipo A), apenas aquecimento (tipo B) ou apenas arrefecimento (tipo C), conforme se pode verificar na figura abaixo.
Etiqueta energética tipo A (Etiqueta de equipamento de reversível):
- Nome do fornecedor ou marca comercial
- Modelo do fornecedor
- Função de arrefecimento
- Função de aquecimento
- Classe de eficiência energética
- Carga de arrefecimento/aquecimento
- Eficiência energética sazonal para arrefecimento
- Eficiência energética sazonal para aquecimento
- Emissão de ruído no interior e exterior da habitação (em dB)
Etiqueta energética (tipo B) (Etiqueta de equipamento de aquefecimento):
- Nome do fornecedor ou marca comercial
- Modelo do fornecedor
- Função de aquecimento
- Classe de eficiência energética
- Carga de aquecimento
- Eficiência energética sazonal para aquecimento
- Consumo energético anual em kWh/ano para aquecimento
- Emissão de ruído no interior e exterior da habitação (em dB)
Etiqueta energética (tipo C) (Etiqueta de equipamento de arrefecimento):
- Nome do fornecedor ou marca comercial
- Modelo do fornecedor
- Função de arrefecimento
- Classe de eficiência energética
- Carga de arrefecimento
- Eficiência energética sazonal para arrefecimento
- Emissão de ruído no interior e exterior da habitação (em dB)
A etiqueta energética de equipamentos de ar condicionado aplica-se aos equipamentos elétricos com capacidade nominal igual ou inferior a 12kW, para arrefecimento ou para aquecimento (nos casos em que o produto não tenha função de arrefecimento).
Caso Prático
Assumindo um preço médio de eletricidade de 0,1557 €/kWh [2], vamos comparar os custos de utilização do ar condicionado (classe energética A+) com os de um radiador elétrico de 2000 W (efeito de Joule, eficiência de 1).
Considerando uma casa com a tipologia T2, com um radiador por cada divisão que apenas funcionam no período de inverno, num total de 386 horas de aquecimento (de 2 h/dia durante a semana e 4 h/dia nos fins-de-semana).
Para os equipamentos de ar condicionado são igualmente considerados uma unidade por divisão e o seu funcionamento num total de 552 horas de arrefecimento (o mesmo número de horas de inverno que os radiadores, funcionando adicionalmente no período de verão, com o mesmo número de horas/dia para os dias de semana e de fins-de-semana).
Para esta comparação, consideraram-se radiadores com uma potência de 2000 W e unidades de ar condicionado equivalentes:
Antes
Sala de Estar (25 m2)
Radiador de 2000 W
Quarto 1 (15 m2)
Radiador de 2000 W
Quarto 2 (12 m2)
Radiador de 2000 W
Depois
Sala de Estar (25 m2)
Ar condicionado de 3000 W
Quarto 1 (15 m2)
Ar condicionado de 2000 W
Quarto 2 (12 m2)
Ar condicionado de 2000 W
O consumo é obtido, multiplicando a potência dos equipamentos pelo número de horas em que estão a funcionar, de onde obtemos:
Custo Radiador
Sala de Estar (25 m2)
120,20 €
Quarto 1 (15 m2)
120,20 €
Quarto 2 (12 m2)
120,20 €
Custo AC
Sala de Estar (25 m2)
91,12 €
Quarto 1 (15 m2)
60,75 €
Quarto 2 (12 m2)
60,75 €
De acordo com as tabelas acima, utilizando um sistema de ar condicionado no decorrer de um ano, verifica-se que os custos de utilização são mais reduzidos do que os de radiadores que funcionam apenas no período de inverno. Esta situação deve-se ao fato dos sistemas de ar condicionado aproveitarem o ar exterior para permuta de calor e recorrerem a um fluido frigorigéneo, dotando-os de eficiências muito elevadas. Conforme referido, o ar condicionado contribuirá para a salubridade da sua casa, uma vez que, permite filtrar e/ou desumidificar o ar interior. Neste caso de estudo, a utilização de ar condicionado em relação a um radiador permite uma poupança de anual de cerca de 148 € (na qual não foram considerados os custos da instalação dos sistemas).
Dicas de poupança
- Antes de adquirir um equipamento de ar condicionado, deverá aconselhar-se junto de um profissional qualificado em AVAC de forma a que seja lhe seja fornecida informação sobre o tipo de equipamento e qual a potência que melhor se adequa às suas necessidades.
- A manutenção preventiva periódica garante o correto funcionamento do ar condicionado. Nesta deve ser verificado o estado dos filtros das unidades interiores, dos alarmes e erros do sistema, deteção e correção de fugas e verificação do circuito de circulação do fluido frigorigéneo, bem como de todas as componentes mecânicas do equipamento.
- Para uma utilização moderada é recomendável ter este equipamento regulado para uma temperatura adequada às condições exteriores: 18°C no inverno e 25°C no verão (valor de referência indicado na legislação da certificação energética de edifícios, SCE).
- Instale toldos, feche as persianas e corra as cortinas para manter a temperatura em casa e reduzir a necessidade de recorrer à climatização.
- É importante colocar os aparelhos de ar condicionado em locais que não sejam atingidos pelo sol ou onde se verifique uma boa circulação de ar.
- A instalação de Janelas Eficientes permite reduzir as perdas de calor, que representam 30% das necessidades de aquecimento.
- Considere a instalação de isolamento térmico nas paredes e coberturas, de forma a reduzir as necessidades de aquecimento.
[1] Inquérito ao Consumo de Energia no Sector Doméstico 2010, Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) e INE (Instituto Nacional de Estatística); [2] Tarifa regulada 2019 definida pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE); [3] Manual de Etiqueta Energética, fevereiro 2017; [4] A unidade de AC neste caso tem uma potência nominal superior (3 kW) uma vez que estas unidades são dimensionadas para o pior caso, o arrefecimento.
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