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Bioeconomia e construção sustentável

As medidas tomadas entre agora e 2050 determinarão se podemos evitar os efeitos mais devastadores das mudanças climáticas no futuro. Os desafios de um caminho mais sustentável exigem ações imediatas e investimentos significativos.

O cenário atual mudou drasticamente os hábitos das cidades, e mudou o consumo a nível global de forma súbita e substancial. Temas como as tecnologias, as questões ambientais e a digitalização estão mais presentes e ganham muita relevância dada a sua importância e o seu impacto no mundo. A crise provocada pela pandemia poderá ser um vetor transformador de uma esperança acrescida para as transformações necessárias à nossa sociedade no âmbito da descarbonização e da economia mais resiliente e sustentável.

O plano europeu de recuperação tem sindo enfático que o único caminho possível para Europa nos próximos anos será um caminho mais ecológico, voltado para o incremento dos investimentos em todos os temas da sustentabilidade, como a mobilidade, gases renováveis, a eficiência energética, a eficiência hídrica e a bioeconomia sustentável.

Não há um caminho para a sustentabilidade sem uma bioeconomia. A bioeconomia promove a alteração do paradigma da utilização de recursos fósseis e não renováveis para produção de produtos de alto valor acrescentado a partir de recursos biológicos.

A sustentabilidade é amplamente conhecida pelo modelo dos três pilares– Ambiente, Sociedade e Economia, em que a atual abordagem coloca o ambiente como o maior círculo, dentro do ambiente a sociedade e em seguida a economia com o menor círculo. A sociedade é produto do ambiente e a economia produto da sociedade (Gráfico 1). O meio ambiente é o provedor de serviços que permite a existência da sociedade humana. A sociedade humana cria as condições, regras e relações que sustentam a atividade económica. Este exercício de hierarquia permite perceber que sem um ambiente e uma sociedade saudável não é possível ter uma economia próspera e sustentável.

Gráfico 1 – Os três pilares da sustentabilidade

Esta proposta de sustentabilidade alargada através da bioeconomia circular, permite que os biomateriais produzidos com recursos a matérias-primas de ciclos biológicos, como a madeira, cortiça, fibras e resinas naturais, reduzam significativamente as emissões de carbono além de produzirem produtos com alto valor acrescentado e de recursos renováveis.

Segundo o European Construction Sector Observatory o sector da construção tem um elevado impacto ambiental. A extensão da vida útil dos edifícios e o aumento da sua resiliência, por via da melhoria do desempenho em matéria de eficiência energética e de recursos é premente.  Um sector de construção mais sustentável requer maior uso de materiais com baixa energia incorporada, com biomateriais, materiais reciclados e soluções de base natural. A construção sustentável não somente é mais hipocarbónica e circular, como proporciona um melhor desempenho energético e ambiental nos edifícios. Dados da COTEC mostram que intervenções no edificado com incentivos a bioeconomia contribui para o aumento da qualidade do parque nacional de edifícios e gera ganhos em termos de eficiência energética e neutralidade carbónica para a cadeia de valor local.

O apoio e incentivo aos consumidores mais vulneráveis com a requalificação da rede de equipamentos e respostas sociais existentes requer uma renovação do parque habitacional como duradouro investimento para a redução da pobreza energética. Estas intervenções são urgentes para o aumento dos níveis de conforto nas habitações e é através de soluções da arquitetura bioclimática, com recurso a bioeconomia, que poderá ser possível atingir um melhor desempenho térmico com baixo impacto ambiental em reformas e em construções de novos edifícios.

Em Portugal, o setor dos edifícios é o terceiro maior consumidor de energia e responsável por grandes consequentes emissões de CO₂ de acordo com o Observatório da Energia ( Gráfico 2).

Gráfico 2 – Consumo de energia final em 2019 em Portugal (Fonte: Observatório da Energia)

As elevadas proporções das despesas energéticas nos rendimentos das famílias podem atingir 2 milhões de portugueses que não têm a capacidade de suportar o arrefecimento e o aquecimento das suas casas, como indica o European Energy Poverty Observatory (Gráfico 3).

Gráfico 3 – Indicadores sugerem que a pobreza energética em Portugal revela a incapacidade de manter a casa aquecida durante o inverno

A utilização de sistemas passivos e da bioeconomia para a construção trazem grandes benefícios aos consumidores mais vulneráveis. As medidas de redução das necessidades energéticas trazem benefícios para todos. O excesso de energia utilizada para aquecer habitações antigas e sem eficiência tem um grave impacto no ambiente e contribui para as alterações climáticas segundo o relatório mais recente do IPCC.

Alcançar a neutralidade carbónica em Portugal até 2050, implica romper com o paradigma da utilização de recursos fósseis e não renováveis, transitando para uma economia circular e de baixo carbono, centrada na utilização dos recursos naturais de forma sustentável em que a bioeconomia surge como uma inovação.

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